terça-feira, 30 de agosto de 2011

A vila da Ericeira em Portugal tem mais de dois mil anos de história e foi tema de um documentário
O documentário “Ericeira: um mar de história” será exibido, gratuitamente, nesta quarta-feira (31), em Balneário Camboriú. O vídeo que conta a história da vila portuguesa da Ericeira vai ser apresentado no Programa Cineclube, da Fundação Cultural. A sessão começa às 19h30, na Biblioteca Machado de Assis, localizada na Terceira Avenida, esquina com as ruas 2500 e 2550. O documentário foi produzido pela TV Univali e conta com apoio cultural das Lojas Sibara.

O Cineclube é um programa coordenado pelo Arquivo Histórico de Balneário Camboriú e exibe filmes sempre na última quarta-feira do mês, dando preferência a obras não comerciais. A entrada é gratuita e a reserva de lugares pode ser feita no local ou pelo telefone 3264-5706, das 13 às 19 horas.


Pescadores ericeirenses são alguns dos personagens do documentário que foi filmado em agosto de 2010
O documentário aborda a importância da vila portuguesa da Ericeira (distante 40 quilômetros de Lisboa) para instalação de uma colônia pesqueira no Litoral de Santa Catarina no século XIX, a Colônia Nova Ericeira, criada por Dom João VI em 1818, na Enseada das Garoupas, hoje a cidade de Porto Belo. Cerca de 300 famílias vieram da Ericeira e de outras cidades de Portugal Continental.

Com direção e roteiro do jornalista Rogério Pinheiro, o documentário traz entrevistas com pescadores, personalidades e brasileiros que foram trabalhar na vila portuguesa. A Ericeira é um dos três lugares em Portugal com a maior concentração de brasileiros. A vila, com mais de dois mil anos de história, tem no turismo a sua principal atividade econômica.

Voltada para o Atlântico Norte, a Ericeira sempre dependeu do mar, seja na pesca e construção naval como o turismo
Desde março deste ano, o filme está sendo exibido, gratuitamente, em escolas públicas, associações de moradores, entidades e colônias pesqueiras do Litoral de Santa Catarina. No itinerário estão as cidades que fizeram parte da Colônia Nova Ericeira: Balneário Camboriú, Bombinhas, Camboriú, Governador Celso Ramos (Ganchos), Itajaí, Itapema, Navegantes, Porto Belo e Tijucas.

Serviço
Evento: Cineclube FCBC – “Ericeira: um mar de história”
Data: 31 de agosto, quarta-feira
Horário: 19h30
Local: Arquivo Histórico de Balneário Camboriú
Endereço: Terceira Avenida, esquina com as ruas 2500 e 2550
Entrada gratuita

As rendeiras de Peniche


Escola de Rendas de Peniche é uma das mais antigas de Portugal

      Na sala o silêncio é total e a atenção sempre voltada à almofada. As mãos ágeis e experientes conduzem agulhas feitas de madeira em movimentos circulares. De um simples novelo de linha surge então uma obra arte: a renda bilro. Na cidade de Peniche, em Portugal, esse mesmo trabalho é feito há mais de 350 anos com maestria.

      Peniche fica numa península com cerca de dez quilômetros. A cidade portuguesa está localizada a 100 quilômetros a Noroeste de Lisboa. Com população estimada em 30 mil habitantes, Peniche é considerado o maior porto pesqueiro de Portugal e conhecido também pelas belas praias e a reserva natural das Berlengas.

Rendeiras de bilro mantém arte há mais de 350 anos

      A cidade também é conhecida em Portugal pelas famosas rendas de bilros. Segundo historiadores, já no século XVII os bilros saracoteavam nas almofadas cilíndricas das mulheres penichenses a dar vida às formas mais ou menos ingênuas dos desenhos traçados sobre os piques cor de açafrão. Um testemunho datado de 1625, sobre a doação de uma renda comprova a origem e fama das rendeiras de Peniche.

      Antes de ser considerada uma arte, a renda de bilro era um trabalho necessário. A atividade exercida pelas mulheres de pescadores ajudava e muito no sustento de suas famílias. Na época em que os homens não podiam sair para o mar devido ao mau tempo, era a venda das rendas feitas pelas mulheres que traziam um alivio no orçamento de casa.
 
Por muitos anos as mulheres de Peniche dependiam da venda da renda de bilro

      De Peniche, a renda ganhou o mundo e chegou ao Brasil, principalmente no Litoral de Santa Catarina, onde se utiliza uma técnica muito semelhante aos utilizados pelas rendeiras de Peniche. Na cidade portuguesa é notória a relação da renda praticada no Brasil com a de Peniche e também de outra cidade portuguesa, Nazaré.
 
Fortaleza de Peniche, onde funciona o museu municipal

     Em meados do século XIX existiam em Peniche quase mil rendeiras. Com a industrialização, as rendas de bilros de Peniche foram sofrendo uma regressão, que atingiu o seu ponto mais drástico com a extinção da disciplina facultativa da sua aprendizagem no ensino secundário. A arte encontra-se atualmente salvaguardada graças a Escola de Rendas de Peniche. Hoje, 500 penicheiras se dedicam à sua confecção.

 
      Entre elas está à senhora Maria Ambrósio, 70 anos, começou a fazer rendas ainda criança.
 
- Enquanto meus irmãos trabalhavam nas empresas de pesca eu com 11 anos, já fazia as rendas parar vender. Não dava tempo nem de ir à escola. Depois casei e fui trabalhar nas redes de malhar, utilizada na pesca – contou a senhora.
 
      Já rendeira Adelina Conceição Gonçalves, 76 anos, começou ainda mais cedo que a colega Maria.
 
- Aprendi a fazer a renda de bilro quando tinha quatro anos. Depois cresci e fui trabalhar na fábrica de redes e depois nos armazém, consertando redes para as traineiras (barcos de pesca) – recorda.
 
       Maria da Conceição Simões, 65 anos de idade e 55 dedicados a renda de bilro, resume o que é ser uma rendeira de Peniche.
 
- O dia em que deixar de fazer renda por não enxergar mais ou por outro motivo qualquer acho que minha vida também acaba. A renda de bilro é meu passatempo favorito e se não conseguir fazer mais seria um grande desgosto – disse a rendeira emocionada.

Navegantes nos tempos da Exponave


Multidão lotava a Exponave que teve nove edições e deixou muitas saudades
Navegantes completou no dia 26 de agosto, 49 anos de emancipação político-administrativa. Nesses quase meio século de história, uma festa que era símbolo das comemorações do aniversário do município é lembrada com saudade pelos moradores. A Exponave surgiu no final da década de 1980 e trouxe para Navegantes muitos artistas de fama nacional. Há mais de 15 anos, a festa não existe, mas as lembranças dos festejos continuam até hoje.

Em 1988, Navegantes era um município com menos de 20 mil habitantes e a base da sua economia eram as empresas de pesca, a agricultura e o comércio. Havia poucas pessoas de fora e os moradores se conheciam. Foi nesse cenário que foi criada uma festa para comemorar o aniversário do município. Surgia assim a Exponave. A festa acontecia Ginásio de Esportes Domingos Angelino Régis e atraia uma multidão de Navegantes e cidades vizinhas. A Exponave chegou a ter um público aproximado de 50 mil pessoas em uma única edição.

Festa acontecia em frente ao Ginásio de Esportes de Navegantes
A festa proporcionava aos seus visitantes uma feira comercial e industrial, além de outras atrações. Os blocos carnavalescos de Navegantes tinham o direito de ter barracas, onde comercializam bebida e comida. O dinheiro arrecadado era utilizado para investir no carnaval. Os shows nacionais eram as atrações mais aguardadas pela população da cidade e da região.

Martinho da Vila foi uma das atrações da Exponave. Ao seu lado está o Bilo
Num período de nove edições, diversos artistas famosos fizeram shows em Navegantes. Luiz Airão, Martinho da Vila, Alcione, Jair Rodrigues, RPM, Ultraje a Rigor, Paulinho da Mocidade, TNT, Garotos da Rua, Wanderlei Cardoso, Ângelo Máximo, Wanderléia e as alas das escolas de samba da Mangueira e Império Serrano, ambas do Rio de Janeiro.

Solon Damásio da Costa, o Bilo, foi o idealizador da festa e disse que a Exponave foi pioneira a dar oportunidade para artistas que estavam esquecidos.

- Trouxemos artistas que estavam esquecidos como Ângelo Máximo, Wanderléia, que tiveram shows concorridos. O show da Wanderléia foi um sucesso. A escola de samba Império Serrano foi também teve também lotação máxima – lembra.

Bilo explicou que a mudança de governo fez que a Exponave mudasse de nome. Para o navegantino, a festa acabou assim que começaram a cobrar entrada.

- Era uma festa que não dava prejuízo e se existisse hoje seria uma das mais tradicionais da região. O diferencial dela era a presença de artistas nacionais, tínhamos sempre uma grande atração por noite. Assim que ela mudou de nome resolveram cercar a área do Ginásio de Esportes e cobrar ingressos. A população que estava acostumada a não pagar para entrar na festa não gostou e acredito que isso motivou o fim da festa – ressaltou Bilo.

Primeira edição da Exponave foi realizada em 1988. Abertura contou com a presença de autoridades
Entre os moradores, saudades da Exponave não faltam. Lembranças que no mês de agosto sempre insistem em voltar. Para Reni Romão, uma festa como a Exponave jamais Navegantes terá de novo.

- Depois da Exponave, Navegantes nunca teve uma festa igual. Nessa época do ano as pessoas já estavam empolgadas com os shows nacionais. Além de Navegantes vinha gente até de Blumenau para participar da festa. Os estandes eram concorridos, empresários e comerciantes disputavam um lugar para vender seus produtos – recorda Reni, que trabalhou muitos anos na parte comercial da festa.

Outra banda que esteve em Navegantes para a Exponave foi o RPM
A última Exponave aconteceu em 1996. Um ano depois virou Exponafest. Em seguida, a festa trocou de nome novamente e começou a ser chamada de Navifest. A Navifest durou apenas duas edições para nunca mais voltar.